Translate

domingo, 31 de março de 2024

Tipos de Obsessão e breves comentários sobre Obsessão Fortuita

Por Leonardo Paixão 

23/02/2024

Campos dos Goytacazes,  RJ


Allan Kardec classificou no cap. 23 de O Livro dos Médiuns, três tipos de obsessão:


- obsessão simples;

- obsessão por fascinação;

- obsessão por subjugação;


Como o próprio Kardec deixa claro em suas obras que ele não disse a última palavra e, portanto, as pesquisas e estudos espíritas trariam novas informações e não é diferente no estudo da obsessão.


Nas obras do Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografadas por Divaldo Pereira Franco temos estudos deste Espírito a nos trazerem novas nomenclaturas para novos casos de obsessão observados. No livro Nos Bastidores da Obsessão, o Miranda traz em suas páginas iniciais sobre "obsessões especiais". No livro Antologia Espiritual, de Espíritos Diversos, o Miranda participa com a mensagem "Obsessões Intermitentes". Por não ser nosso objetivo neste texto o estudo destes tipos outros de obsessão, só citaremos as obras em que estão e o/a leitor/a interessado/a pode recorrer a elas para seus estudos/pesquisas.

Outros processos obsessivos como o vampirismo, obsessão por encomenda (feitiços, trabalhos feitos), auto-obsessão, obsessão em crianças, obsessões simuladas e doenças fictícias, ação dos obsessores durante o sono, alergia e obsessão, foram revelados após estudos como os de Albert de Rocha no livro Exteriorização da Sensibilidade, onde ele irá estudar os processos do Voodu; Herculano Pires  tem um excelente estudo sobre "parasitose espiritual", que é o seu livro Vampirismo;  no seu livro A Obsessão e seus Mistérios, Carlos Bernardo Loureiro analisa diversos processos obsessivos. E nós, nesse singelo texto, trazemos a nossa contribuição, buscando entender o que é a "obsessão fortuita", expressão que ouvimos em 1999 de Carlos Bernardo Loureiro em entrevista que ele deu ao Alamar Régis Carvalho no então programa Espiritismo via satélite, falando sobre obsessão.

Muitas "obsessões fortuitas" ocorrem devido aos maus hábitos.

As obsessões fortuitas são as que ocorrem de forma repentina, inesperada, sem planejamento nem previsão, isto é, são as que se desencadeiam devido à afinidade de gostos, de interesses entre desencarnados e encarnados. E também por fraqueza moral de encarnados.

Importante também observarmos estas orientações de Allan Kardec: 

"(...) Seria errôneo, pois acreditar-se que os Espíritos  só exercem sua influência por meio de comunicações escritas ou verbais. Essa influência é permanente (grifei) e mesmo os que não se ocupam com os Espíritos, ou neles não creem, estão expostos a sofrê-la, como os outros e mesmo mais do que os outros, porque não têm como contrabalançá-la.

As causas da obsessão variam de acordo com o caráter do Espírito. Às vezes é uma vingança que ele exerce sobre a pessoa que o magoou nesta vida ou em existências anteriores (grifei). Muitas vezes, é o simples desejo de fazer o mal (grifei), como o Espírito sofre, quer fazer que os outros também sofram, encontra uma espécie de prazer em atormentá-los, em humilhá-los, e a impaciência que a vítima demonstra o exacerba mais ainda, porque é esse o objetivo que o obsessor tem em vista, enquanto a paciência acaba por cansá-lo. Ao irritar-se e mostrar-se despeitado, o perseguido faz exatamente o que o perseguidor deseja. Esses Espíritos agem, não raras vezes, por ódio e por inveja do bem, o que os leva a lançarem suas vistas malfazejas sobre as pessoas mais honestas. Um deles se apegou como "sarna" a uma honrada família do nosso conhecimento, à qual, aliás, não teve a satisfação de enganar. Interrogado acerca do motivo por que se agarrara a pessoas tão distintas, em vez de apegar-se a homens maus como ele, respondeu: estes não me causam inveja (grifo do original). Outros são guiados por um sentimento de covardia, que os induz a se aproveitarem da fraqueza moral de certos indivíduos, que eles sabem, incapazes de lhes resistirem. Um destes últimos, que subjugava um rapaz de inteligência muito curta, interrogado sobre os motivos dessa escolha, respondeu: Tenho grande necessidade de atormentar alguém. Uma pessoa criteriosa me repeliria; ligo-me a um idiota, que não me opõe nenhuma resistência (grifo do original)" (KARDEC. O Livro dos Médiuns).


A melhor defesa para que não se adentre em processos obsessivos é: 


- oração;

- conhecimento dos processos obsessivos, as técnicas usadas pelos obsessores;

- a conduta moral enobrecida.

sexta-feira, 22 de março de 2024

Uma Revisão Acadêmica Abrangente da Pesquisa em Reencarnação

 Resenha originalmente em inglês, tradução livre de Leonardo Paixão (*)


Uma Revisão Acadêmica Abrangente da Pesquisa em Reencarnação


Lucam Justo de Moraes e Alexander Moreira-Almeida 

Universidade Federal de Juiz de Fora 


Uma Revisão de Sinais de Reencarnação: Explorando Crenças, Casos e Teoria, por James G. Matlock. Rowman & Littlefield, 2019., pp. xxi + 385. $ 39,00 (brochura). ISBN 9781538124796 

As crenças em vidas passadas foram difundidas ao longo da história e em diferentes culturas ao redor do mundo e ainda prevalecem hoje em dia. Além da crença na reencarnação ser muito popular entre as tradições religiosas/espirituais orientais (Hinduísmo, Budismo, Jainismo e Sikhismo), a sua expressão também é significativa no Ocidente. A crença na reencarnação foi relatada por 20% da população em geral na Europa Oriental, 27% na Europa Ocidental, 33% nos EUA e 37% no Brasil (DataFolha, 2007; Inglehart et al., 2004; Gallup, 2003). Além disso, a crença na reencarnação tem sido associada à visão de mundo das pessoas, impactando sua saúde mental (Davidson et al., 2005), bem como suas capacidades de superar doenças e eventos estressantes da vida (Peres, 2012), e resiliência psicológica e virtudes humanas ( Linley e Joseph, 2004). Por outro lado, a crença em vidas passadas pode estar associada a lutas psicológicas, sentimentos de culpa e um sentimento de passividade em relação à vida (Stauner et al., 2016). Contudo, vale ressaltar que as últimas cinco décadas foram marcadas não apenas por estudos e investigações sobre a crença na reencarnação, mas, que um novo campo científico foi desenvolvido para investigar possíveis evidências empíricas da verdade factual da reencarnação. Trata-se principalmente de reivindicações de memórias de vidas passadas.

Relatos de crianças que reivindicaram memórias de vidas passadas foram publicados esporadicamente, pelo menos desde o final do século XIX (Fielding, 1898; Hearn, 1897; Stevenson, 2000). Embora um corpo de investigação considerável tenha sido construído no último meio século (Daher et al., 2017), esta quantidade substancial de evidências não é bem conhecida fora do campo da parapsicologia. Existem alguns livros que fornecem uma boa visão geral da pesquisa sobre reencarnação para o público em geral e alguns livros acadêmicos dedicados à análise de certos aspectos dos estudos sobre reencarnação, ou de estudos desenvolvidos por um grupo de pesquisa. Sinais de Reencarnação: Explorando Crenças, Casos e Teoria é, até onde sabemos, a primeira revisão acadêmica abrangente do campo de investigações de memórias de vidas passadas. Seu principal objetivo é abordar “a natureza da evidência da reencarnação, a questão de quão boa é essa evidência e, se for satisfatória, qual a melhor forma de interpretá-la” (p. xix). 

___

1 Endereço para correspondência: Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde (NUPES), Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Juiz de Fora/MG Brazil, ljmpsico@gmail.com ou alex.ma@medicina.ufjf.br. Este trabalho foi financiado pela bolsa 89/18 da Fundação Bial.

James G. Matlock tem formação em antropologia e parapsicologia e um antigo interesse na pesquisa sobre reencarnação. Seu primeiro artigo sobre parapsicologia foi uma resenha de livro sobre o tema (Matlock, 1986) e sua tese de mestrado em antropologia foi sobre crenças de reencarnação em sociedades tribais (Matlock, 1993). Depois disso, mudou seus interesses para outros temas, mas desde o início da década atual voltou a se concentrar nos estudos de reencarnação. Desde 2011 ele desenvolveu e ministra um curso de pós-graduação sobre reencarnação e este livro é em grande parte o produto deste curso. Atualmente, ele é pesquisador da Fundação Parapsicologia e contribuiu com vários artigos sobre reencarnação para a Enciclopédia Psi. Matlock também escreveu recentemente, em parceria com o principal pesquisador de reencarnação, Erlendur Haraldsson, o popular livro I Saw a Light and Came Here: Children’s Experience of Reincarnation (Haraldsson & Matlock, 2017). [Em tradução livre: Eu vi uma luz e vim para cá: a experiência da reencarnação infantil]

Toda essa experiência no tema está refletida neste livro acadêmico, baseado em cerca de 900 referências. Apesar de nos interessarmos pela pesquisa sobre reencarnação há mais de duas décadas, fomos constante e positivamente surpreendidos pelas referências a livros e artigos relevantes que desconhecemos. Matlock integra evidências fornecidas por estudos de diferentes áreas, como parapsicologia, psicologia, antropologia, psiquiatria e história. Como esperado, ele deu especial atenção à seminal e volumosa contribuição científica de Ian Stevenson, professor de psiquiatria da Universidade da Virgínia que basicamente fundou o campo de investigação acadêmica de evidências empíricas sugestivas de reencarnação e ainda é o pesquisador mais prolífico que este campo já teve (Daher et al., 2017).

Matlock começa Sinais de Reencarnação relatando um caso recente, inédito e resolvido do tipo reencarnação que ele investigou. Trata-se de Rylann O'Bannion's, uma menina de Bartlesville, Oklahoma, que nasceu em 2008. Quando tinha entre dois e três anos de idade, Rylann começou a reivindicar uma suposta vida passada. Mais tarde, seu caso foi associado a uma personalidade anterior chamada Jennifer Schultz, uma garota de Kenner, Louisiana, que nasceu em 1971 e morreu provavelmente eletrocutada em 1982 enquanto falava ao telefone durante a queda do avião Pan Am 759. Este caso é baseado nas próprias memórias e comportamentos incomuns da criança, a maioria deles verificados através de entrevistas com Rylann, relatos de testemunhas em primeira mão, análise documental e relatos dos pais de Jennifer. Com base no caso de Rylann, o autor começa a apresentar o campo das investigações de memórias de vidas passadas, proporcionando uma boa amostra da emocionante, desafiadora e complexa investigação científica de tais casos. Antes de apresentar e discutir as evidências empíricas fornecidas pelos estudos sobre reencarnação, Matlock primeiro fornece uma contextualização muito boa, fornecendo uma análise intercultural da crença na reencarnação e discutindo métodos de pesquisa, suas críticas e estruturas interpretativas. Seguindo Edward Tylor, um dos fundadores da antropologia moderna, Matlock afirma que as crenças sobre a reencarnação têm base empírica, ou seja, baseiam-se principalmente em experiências que sugerem isso.

A fim de fornecer uma análise e interpretação abrangentes da evidência empírica relacionada com casos de reencarnação, é essencial lidar não apenas com características isoladas, mas com o que Matlock descreve como “síndrome do renascimento”. Este seria composto por duas categorias do que ele chamou de “sinais de reencarnação”. Os “sinais principais” são reivindicações espontâneas de memória de vidas anteriores (memórias autobiográficas verbais, espaciais e de identificação), identificação comportamental com a pessoa anterior (traços de personalidade, comportamentos incomuns e habilidades) e marcas de nascença e outros sinais físicos.

Os “sinais secundários” são sinais de agência desencarnada (sonhos de anúncio de renascimento, ou aparições, e memórias de intervalo do período entre a morte e a nova vida), padrões universais e quase universais (por exemplo, predominância de homens e mortes violentas, idade em que as crianças começam e param de falar sobre vidas anteriores) e impactos psicológicos de memórias de vidas passadas (por exemplo, fobias e inconformidade de gênero). O livro fornece uma revisão bastante abrangente destes “sinais secundários” que são frequentemente ignorados na literatura académica, por exemplo, as semelhanças e diferenças transculturais, e a existência de declarações verificadas sobre factos alegadamente observados durante os períodos de intervalo. Outro ponto inovador interessante é a análise das semelhanças entre relatos de experiências de quase morte (EQMs) e períodos de intermissão em casos de reencarnação.

Dado que a evidência mais robusta vem de crianças, existem poucos estudos de adultos que reivindicam memórias de vidas passadas, tanto casos espontâneos como induzidos (geralmente por hipnose de regressão). Há um capítulo que preenche esta lacuna, revendo as evidências disponíveis e conclui que a natureza probatória dos relatórios publicados ainda é muito pobre. No entanto, também é importante compreender quem são os adultos que reivindicam estas memórias e quais são as características dessas afirmações. Há também alguma discussão sobre revelações feitas por xamãs, sensitivos e médiuns que alegam acessar  vidas passadas de supostos consultores.

No final do livro, Matlock afirma: “Sem razões válidas para rejeitar a reencarnação a priori, as questões de sua ocorrência devem ser resolvidas pelas evidências” (p. 271). Depois de fornecer uma revisão bastante abrangente e equilibrada da evidência empírica relacionada com a reencarnação, ele conclui: “Agora não hesito em declarar que acredito que a reencarnação é a única interpretação intelectualmente defensável dos dados” (p. 270). Ao defender a realidade da sobrevivência pós-morte pessoal, o autor coloca adequadamente a evidência fornecida pelos casos de reencarnação no contexto mais amplo de várias outras evidências empíricas sugestivas de sobrevivência, tais como EQM, aparições de crise, mediunidade e lucidez terminal. Finalmente, Matlock propõe um “modelo teórico do processo de reencarnação” (p. 271), que ele chama de “teoria processual da alma”. Com base nos dados empíricos e ideias de autores como Frederic Myers, William James e Ian Stevenson, seu modelo argumenta que “o fluxo de consciência que anima um corpo durante a vida continua na morte e persiste durante a morte, até que se torne associado a (possua) outro corpo… O fluxo de consciência é composto de estratos subliminares e supraliminares… Uma vez de posse de seu novo corpo, a mente reencarnante o personaliza adicionando efeitos comportamentais e físicos através de operações psicocinéticas em seu genoma, cérebro e fisiologia subjacente” ( pág. 259). Este modelo é proposto por razões heurísticas para estimular novas pesquisas e desenvolvimentos. Matlock também defende a persistência da consciência pessoal/individual, mas contra a existência de carma retributivo ou jurídico, corpos astrais e dualismo cartesiano. Em vez disso, ele propõe carma processual, um fluxo de consciência (um eu contínuo sem corpo astral) e um dualismo de propriedades idealista. No entanto, não consideramos convincentes os argumentos que ele apresentou contra o primeiro e em apoio ao segundo. Parece que ainda não temos base empírica para decidir, uma vez que, por exemplo, os conceitos de ego cartesiano e corpo astral também podem acomodar as evidências disponíveis.

Alguns aspectos históricos apresentados também são problemáticos. Não é correto atribuir as opiniões de Kardec sobre mediunidade a um único médium (uma afirmação baseada no controverso artigo de Aksakof baseado em uma investigação histórica pobre, ou seja, uma entrevista com apenas uma pessoa que era hostil a Kardec) (Aksakof, 1875; Moreira-Almeida, 2009).

Também não é correto afirmar que, de acordo com a “versão mais amplamente aceita da teoria quântica… a consciência… é fundamental na criação da realidade física” (p. 236). Embora existam físicos importantes que defenderam esta posição, é questionável afirmar que esta é a versão mais amplamente aceita da teoria quântica. No entanto, estes problemas estão relacionados apenas com aspectos colaterais dos propósitos principais do livro e não comprometem as suas muitas boas qualidades.

Embora o fenômeno das memórias de vidas passadas ainda seja um campo científico largamente inexplorado, e até mesmo negligenciado pela comunidade acadêmica dominante, o trabalho de Matlock reforça-o como um fenômeno atual, relevante e mundial que merece maior atenção. Além disso, como apontado por Stevenson (2000), o grande significado empírico dos casos do tipo reencarnação deve ser considerado ainda mais no que diz respeito às suas possíveis implicações no desenvolvimento da personalidade, na saúde, na aprendizagem, nos relacionamentos e nos aspectos religiosos/espirituais, mesmo naquelas pessoas que nunca reivindiquem qualquer memória de vidas passadas. Contudo, alguns desafios precisam ser superados. Existem poucos grupos de pesquisa atualmente investigando tais casos em todo o mundo, com exceções da Divisão de Estudos Perceptivos da Universidade da Virgínia (EUA), Erlendur Haraldsson do Departamento de Psicologia da Universidade da Islândia, Ohkado Masayuki da Universidade Chubu em Japão, e o Centro de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF (Brasil). Além disso, considerando os aspectos transculturais de tais casos, a barreira linguística pode ser considerada uma grande limitação. Consequentemente, seria importante que novos investigadores fossem treinados e preparados para realizar investigações tão desafiadoras em todo o mundo. Por fim, considerando a diminuição de estudos científicos relacionados às memórias de vidas passadas após a morte de Ian Stevenson, esperamos que Sinais de Reencarnação seja uma forma importante de divulgar, chamar a atenção e estimular o interesse de uma nova geração de pesquisadores pelo  emocionante e desafiador campo científico dos fenômenos de reencarnação.


Referências 

Aksakof, A. (1875). Research on the historical origin of the reincarnation speculations of French spiritualists. The Spiritualist Newspaper, 13, 74-75. Retrieved from http://www.iapsop.com/archive/materials/ spiritualist/index.html 

Daher, J. C. Jr., Damiano, R. F., Lucchetti, A. L., Moreira-Almeida, A., & Lucchetti, G. (2017). Research on experiences related to the possibility of consciousness beyond the brain: A bibliometric analysis of global scientific output. Journal of Nervous and Mental Disease, 205, 37-47. https://doi.org/10.1097/ nmd.0000000000000625 DataFolha (2007). DataFolha: Instituto de pesquisas. Retrieved from http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2013/05/02/religiao_03052007.pdf 

Davidson, J.R., Connor, K. M., & Lee, L.C. (2005). Beliefs in karma and reincarnation among survivors of violent trauma: A community survey. Social Psychiatry and Psychiatric Epidemiology, 40, 120-125. https:// doi.org/10.1007/s00127-005-0857-6 

Fielding H. H. (1898). The soul of a people. Macmillan. Gallup, G. (2003). The Gallup poll: Public opinion. Scholarly Resources. 

Haraldsson, E., & Matlock, J.G. (2017). I saw a light and came here: Children´s experiences of reincarnation. White Crow Books. https://doi.org/10.31275/2018/1318  

Hearn, L. (1897), Gleanings in buddha-fields: Studies of hand and soul in the far east. Houghton Mifflin. https://doi.org/10.4324/9781315788746 

Inglehart, R., Basanez, M., Diez-Medrano, J., Halman, L., & Luijkx, R. (2004). Human beliefs and values: A cross-cultural sourcebook based on the 1999-2002 values survey. Siglo Veintiuno Editores. 

Linley, P. A., & Joseph, S. (2004). Positive change following trauma and adversity: A review. Journal of Traumatic Stress, 17, 11-21. https://doi.org/10.1080/15325020490890741

Matlock, J. G. (1986). [Review of the book The Search for Yesterday, by D. S. Rogo]. Journal of the Society for Psychical Research, 53, 229-232. 

Matlock, J. G. (1993). A cross-cultural study of reincarnation ideologies and their social correlates. (Unpublished M.A. thesis), Hunter College, City University of New York. 

Moreira-Almeida, A. (2009). Aksakof’s paper on Kardec. Psypioneer, 5, 29-32. Retrieved from http://www. iapsop.com/psypioneer/psypioneer_v5_n1_jan_2009.pdf 

Numbers, R. L. (Ed.). (2009). Galileo goes to jail and other myths about science and religion. Harvard University Press. https://doi.org/10.2307/j.ctvjghtcb.3 Peres, J. F. P. (2012). Should psychotherapy consider reincarnation? Journal of Nervous and Mental Disease, 200, 174-78. https://doi.org/10.1097/nmd.0b013e3182439836 

Stauner, N., Exline, J. J., & Pargament, K. I. (2016). Religious and spiritual struggles as concerns for health and well-being. Journal of Religion and Health, 14, 48-75. https://doi.org/10.5752/p.21755841.2016v14n41p48 

Stevenson, I. (2000). The phenomenon of claimed memories of previous lives: Possible interpretations and importance. Medical Hypotheses, 54, 652-659. https://doi.org/10.1054/mehy.1999.0920


(*) Leonardo Paixão é Orador, Escritor, Pesquisador, Magnetizador, médium espírita, presidente e Fundador do Grupo Espírita Semeadores da Paz, Campos dos Goytacazes, RJ. Como escritor espírita tem dois livros editados pela Editora Virtual O Consolador (EVOC): Reflexões Doutrinárias e Novas Reflexões Doutrinárias, onde estão presentes algumas reflexões filosóficas fundamentadas nas pesquisas que realizou.

Profissionalmente é Psicanalista tendo feito sua formação pela Sociedade Brasileira de Psicanálise Integrativa - SP e a continua (porque a formação do Psicanalista não para) com participação em Seminários e Cursos dados pelas Sociedade Psicanalítica Online (SPO), pelo canal Psicanálise Descolada, aulas com Jorge Forbes, Luc Ferry, Gilles Lipovetsky  pelo Instituto de Psicanálise Lacaniana (IPLA), aula Manejo Clínico na Prática com Maria Homem  e pela Clínica Jorge Jaber - RJ, onde fez Curso de Extensão em Dependência Química. Professor em Curso Livre de Psicanálise.

É também Mestre em Teologia - FAINTE/PE; Especialista em Antropologia Teológica e da Religião - FAINTE/PE; Bacharel em Teologia - FATE/SP e FAINTE/PE; Superior Sequencial em Gestão Eclesiástica e Ministério Pastoral - FAAEC/PR; Graduando em Filosofia - FAINTE/PE; Graduando em Administração - FAAEC/PR

Teve o trabalho O Teatro e o Lúdico Fazendo Educação Ambiental apresentado no Livro de Resumos do II Congresso Acadêmico dos Institutos Superiores da Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro/ [organizadores] Solange Silva Saramão, Luciana Aparecida Rodrigues, Cláudio Luiz de Melo. Visconde do Rio Branco, MG: Suprema, 2008. p. 85

É escritor e poeta e tem deixado textos sobre os mais diversos assuntos nas mídias sociais, além de lives, igualmente sobre assuntos diversos, embasado sempre em leituras de artigos e revistas científicas, além de livros, especialmente no grupo Psicanálise, Filosofia e Afins, no Facebook

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Transtornos Psiquiátricos e Obsessivos

 

Por Leonardo Paixão

29/02/2024

Campos dos Goytacazes, RJ

 

 

Neste texto, iremos tecer algumas reflexões sobre dois parágrafos que constam da Apresentação do livro Transtornos Psiquiátricos e Obsessivos, do Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco.

No primeiro parágrafo observa Miranda:

 “Os avanços das doutrinas que estudam a mente e as emoções têm contribuído de maneira expressiva para decifrar problemas psiquiátricos e os de comportamento, oferecendo terapias valiosas que os diminuem ou que libertam os pacientes das aflições de angústia e de desespero que os alienam”.

(Miranda, 2017. Transtornos Psiquiátricos e Obsessivos)

 

É preciso considerar que não se tratam transtornos psiquiátricos ou mentais bem como as questões emocionais e os conflitos existenciais com o uso exclusivo de medicamentos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu, em 22 de janeiro de 1998, que “saúde é um estado dinâmico de completo bem-estar físico, mental, espiritual e social, e não meramente a ausência de doença ou enfermidade”.

Houve um avanço na definição de saúde ao se inserir o espiritual, no entanto, falta o se chegar a uma compreensão de que o ser humano é um ser de tríplice aspecto, pois que ele não é uma dicotomia corpo e mente.

O Espiritismo traz a seguinte concepção, somos quando encarnados: Espírito, perispírito e corpo físico. O Espírito é o Ser, a Essência, criada pela Suprema Vontade – Deus. O perispírito é o corpo intermediário que favorecerá a ligação do Espírito, que é incorpóreo, com o corpo físico. Esse corpo intermediário será o canal de comunicação entre o Espírito e o corpo. O corpo físico é movimentado pelo Espírito através do perispírito que, recebendo, ou melhor, sendo o veículo do Espírito, leva para o corpo físico as suas impressões. As dores morais sentidas pelo Espírito em sua romagem terrena fazem, por assim dizer, abalos, traumas no perispírito e estes são somatizados, isto é, o corpo físico dá os sinais que visibilizarão o desequilíbrio do Espírito, causa primeira de toda desordem.

E o Miranda apontará no segundo parágrafo:

“(...) muitos conflitos gerados pela tecnologia e pelas comunicações virtuais, assim como pelos fatores defluentes do processo da evolução, expressando-se na hereditariedade e nas enfermidades infectocontagiosas, o número de portadores de transtornos mentais e psicológicos prossegue com estatística ampliada”.

A tecnologia trouxe excelente auxílio, diminuindo consideravelmente as distâncias para a comunicação entre os povos, no entanto, para a vida pessoal, ao passo que facilitou o acesso à informação e à comunicação, trouxe isolamento social, comportamentos padronizados, crimes cibernéticos, traições virtuais, pornografia em massa, fake News, bullying cibernético, fatores esses que tem acarretado o desencadear de depressões, ansiedades, desagregação familiar, estresse constante, suicídios, dependência de tela, desinformação, deseducação, processos de vampirismo.

O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, no ano 2010, escreveu o livro Sociedade do Cansaço que, segundo Walmar Andrade:

“(...) é um breve ensaio sobre os efeitos provocados na mente das pessoas pelas mudanças sociais, culturais e econômicas do século 21.

Para Byung-Chul Han, uma das principais causas para a piora generalizada na saúde mental das pessoas é o excesso de positividade.

A mudança de uma sociedade disciplinar para a atual sociedade de desempenho, em que todos precisam “performar no seu máximo”, seria a principal razão para a explosão de doenças neuronais como depressão, transtorno de déficit de atenção com síndrome de hiperatividade (TDAH), transtorno de personalidade limítrofe (borderline) e Síndrome de Burnout (SB).

Enquanto na antiga sociedade disciplinar as pessoas precisavam enfrentar mais regras, sujeições e proibições, na atual sociedade de desempenho muitos profissionais tornaram-se empresários de si mesmos.

O homem depressivo é aquele animal laborans que explora a si mesmo e, quiçá deliberadamente, sem qualquer coação estranha. É agressor e vítima ao mesmo tempo”.

Byung-Chul Han, em Sociedade do Cansaço (2015)

https://walmarandrade.com.br/sociedade-do-cansaco/ - acesso em 01/01/2024

 

Podemos ver assim que Miranda ao falar sobre “conflitos gerados pela tecnologia” está plenamente de acordo com os estudos, tais o que aqui citamos, como os do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han.

Dentre os aspectos obsessivos que podemos relacionar com os transtornos e comportamentos que são efeitos do uso indiscriminado de aparelhos tecnológicos, temos o vampirismo. Aqui abordaremos o vampirismo endógeno ou autovampirismo, já que no uso excessivo de celulares, tablets, notebooks, etc., estamos sós e ocorre em nosso cérebro os seguintes processos:

“Através do uso de telefones celulares, computadores ou televisores, as pessoas podem aprender, se divertir e interagir uns com os outros. No entanto, nem tudo nesta dinâmica de uso é positivo. Estar na frente das telas por longos períodos de tempo pode ter efeitos nocivos à saúde.

O uso da tela pode afetar os ritmos circadianos

Os ritmos circadianos do nosso corpo – mudanças físicas, mentais e comportamentais que seguem um ciclo de 24 horas e respondem principalmente à luz e à escuridão – são afetados pela exposição às telas dos aparelhos eletrônicos. 

Dados do Instituto Nacional de Ciências Médicas Gerais (Nigms, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, indicam que a luz dos dispositivos durante a noite pode confundir os relógios biológicos. Como resultado, ela pode causar distúrbios do sono e levar a outras condições médicas crônicas, tais como obesidade, diabetes ou depressão.

Além disso, o tempo de tela pode substituir o tempo gasto com exercícios, este, sim, benéfico para o sono. A informação está publicada no artigo intitulado “Aumento do tempo de tela como causa de diminuição da saúde física, saúde psicológica e padrões de sono: uma revisão da literatura”, de 2022, publicado na revista científica médica Cureus.

As telas afetam o sistema de recompensa do cérebro

Por outro lado, o tempo de tela dessensibiliza o sistema de recompensa do cérebro, de acordo com um artigo informativo de Victoria Dunckley, psiquiatra e autora do livro “Reset Your Child's Brain” (“Redefina o Cérebro do seu Filho”, em tradução livre), publicado no site da Universidade do Estado de Nova York, nos Estados Unidos. 

Como relata o material, os jogos eletrônicos e redes sociais fazem com que algumas crianças fiquem "viciadas" nos dispositivos e liberam muita dopamina (um neurotransmissor que gera uma sensação de bem-estar). "Mas quando os caminhos de recompensa são usados em excesso, eles se tornam menos responsivos e é necessário cada vez mais estímulo para experimentar o prazer".

A exposição excessiva na tela afeta o desenvolvimento cognitivo

Passar muito tempo diante de uma tela afeta o desenvolvimento cerebral e aumenta o risco de distúrbios cognitivos, emocionais e comportamentais em adolescentes e jovens adultos. 

É o que explica o artigo “Demência digital na geração da Internet: o tempo excessivo de tela durante o desenvolvimento do cérebro aumentará o risco de doença de Alzheimer e demências relacionadas na vida adulta”, publicado no Journal of Integrative Neuroscience em 2022.

Segundo o estudo, o tempo de tela excessivo "afeta negativamente a atenção e a concentração, a aprendizagem e a memória, a regulação emocional e o funcionamento social, a saúde física, e o desenvolvimento de distúrbios mentais e de uso de substâncias".

A exposição precoce à tela aumenta o risco de Alzheimer

Um artigo publicado no Journal of Integrative Neuroscience vai pelo mesmo caminho e também adverte: "Se os circuitos neurais subjacentes às habilidades cognitivo-comportamentais essenciais para a inteligência geral e adaptabilidade durante toda a vida são subdesenvolvidos ou anormalmente desenvolvidos antes da idade adulta”, diz o documento. 

A investigação científica continua e diz que “é provável que essas mudanças persistam na idade adulta precoce e média e sejam mais vulneráveis à neurodegeneração acelerada na idade adulta tardia, o que aumentará o risco de leve comprometimento cognitivo e doença de Alzheimer precoce e demências relacionadas".

REDAÇÃO NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL

Publicado em 24 de fevereiro de 2023, 16:45 BRT

 

O Professor José Herculano Pires, filósofo, jornalista, escritor e pesquisador espírita na década de 70 tinha já a dimensão do que estímulos sensoriais e psíquicos em excesso trariam de efeitos no comportamento humano. Atentemos:

 

“Se compreendermos que o vampirismo não é mais do que exacerbação mórbida de tendências, naturais do organismo, mantidas e em equilíbrio e, portanto, em condições normais na vida rotineira, não estranharemos a expressão autovampirismo. As tendências orgânicas e psíquicas de cada criatura humana resultam de complexos processos filogenéticos espirituais e vitais que determinam a condição natural de equilíbrio entre a afetividade, a volição ou vontade, a dinâmica consciente – inconsciente, e a razão. O menor desequilíbrio em qualquer ponto de uma dessas áreas da constituição psicossomática pode desencadear processos anormais nas manifestações compulsórias do ser”. (PIRES, José Herculano. Vampirismo. São Paulo: Editora Paideia, 2011)

 

Os Transtornos de tela trazem consequências como apontam os estudiosos do assunto:

“Farias (2018), expressa em seu trabalho que há uma alienação do corpo diante do vício em telas. Aponta uma diminuição da lubrificação ocular, dores na coluna vertebral e doenças decorrentes da redução da mobilidade, o que tem contribuído para o aumento do sedentarismo. 

Manno; Rosa (2018), afirmam que os indivíduos que mantém uma relação psicótica com a internet, em sua maioria, apresentam acentuada fragilidade pessoal, tais como, baixa autoestima, dificuldade em lidar com a frustração, entre outras, e a internet surge como uma forma de evitar os medos e as ansiedades do mundo real e proporcionar prazer.

Os sintomas de que um indivíduo está acometido dessa dependência são caracterizados por ansiedade, mudanças de humor, agitação e manter-se por horas conectado, indiferente aos danos sofridos nas áreas psicológicas, social e física (TERROSO; ARGIMON, 2016)”

IN: SILVA, Braian Bruno da; LEITE, Cássia Soares; COSTA, Ederson Ribeiro. Dependência de tela - A patologia do século XXI:  uma revisão narrativa. Unisalesiano.

 

Recursos a serem usados para o auxílio a pessoas dependentes de telas:

- Psicoterapia, pois por trás da dependência, comumente há carências pessoais e baixa autoestima, mas também pode haver conflitos familiares, bullying, luto pela morte de um ente querido ou mudança de país;

- Apoio familiar, os familiares devem buscar grupos de apoio par que possam assim irem aprendendo a lidar com a situação.

No campo espírita os recursos são:

- Orientar a pessoa para desenvolver o hábito diário da prece e também se orar por ela, lembrando que “Em todos os casos de obsessão, a prece é o mais poderoso auxiliar para agir contra o Espírito obsessor” (KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo » Capítulo XXVIII - Coletânea de preces espíritas » V - Preces pelos doentes e pelos obsidiados » Pelos obsidiados, item 81). Obviamente falamos aqui da prece sincera e não das lidas e/ou decoradas cujo coração está longe.

- Tratamento por passes magnéticos. Lembrando que:

“Nos casos de obsessão grave, o obsidiado se acha como que envolvido e impregnado de um fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos salutares e os repele. É desse fluido que importa desembaraçá-lo. Ora, um fluido mau não pode ser eliminado por outro fluido mau. Mediante ação idêntica à do médium curador nos casos de enfermidade, cumpre se elimine o fluido mau com o auxílio de um fluido melhor, que produz, de certo modo, o efeito de um reativo. Esta a ação mecânica, mas que não basta; necessário, sobretudo, é que se atue sobre o ser inteligente, ao qual importa se possa falar com autoridade, que só existe onde há superioridade moral. Quanto maior for esta, tanto maior será igualmente a autoridade”.

(KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo » Capítulo XXVIII - Coletânea de preces espíritas » V - Preces pelos doentes e pelos obsidiados » pelos obsidiados, item 81)

- Reuniões mediúnicas de desobsessão, pois, ainda que seja um processo de autovampirismo, Espíritos ociosos podem se aproximar para exacerbar o comportamento dependente. Não podemos nos esquecer de que há no Mundo dos Espíritos os jovens que desencarnaram com tal dependência e que podem estar a influenciar outros jovens que foram ou não de seu círculo de amizades virtuais.

- E fica essa advertência e orientação do Professor José Herculano Pires para quando nos dirigirmos a pessoas obsedadas por processos de vampirismo:

“(...) Mais do que estimulações morais, deve-se recorrer ao esclarecimento racional do problema. A criatura humana é sempre mais sensível às explicações lógicas do que às exortações puramente morais e geralmente piegas, desvalorizadas pela ação corrosiva da hipocrisia de pregadores que fazem o contrário do que ensinam. A vítima de vampirismo e os seus algozes necessitam de estímulo racional, pois a prática vampiresca se funda sempre nos processos sensoriais e afetivos. São sempre criaturas que alegam carência de amor, de afetividade, como crianças mimadas que passam pelos traumatismos do abandono. Por isso mesmo são também inconstantes, inseguras, fugindo ao tratamento sempre que possível”.

(PIRES, José Herculano. Vampirismo. São Paulo: Editora Paideia, 2011)

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Nos Bastidores da Obsessão - Estudo

Estudo do livro Nos Bastidores da Obsessão, do Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco.


Examinando a Obsessão (continuação)


Nem sempre, porém, os resultados são imediatos. Para a maioria dos Espíritos, o tempo conforme se conta na Terra, tem pouca significação. Demoram-se, obstinados, com tenacidade incomparável nos propósitos a que se entregam anos a fio, sem que algo de positivo se consiga fazer, prosseguindo a tarefa insana, em muitos casos, até mesmo depois da morte... Isto porque do paciente depende a maioria dos resultados nos tratamentos da obsessão... Iniciado o programa de recuperação, deve este esforçar-se de imediato para a modificação radical do comportamento, exercitando-se na prática das virtudes cristãs, e, principalmente, moralizando-se. A moralização do enfermo deve ter caráter primário, considerando-se que, através de uma renovação íntima bem encetada, ele demonstra para o seu desafeto a eficiência das diretrizes que lhe oferecem como normativa de felicidade.

Merece considerar, neste particular, que o desgaste orgânico e psíquico do médium enfermo, mesmo depois do afastamento do Espírito malévolo, ocasiona um refazimento mais demorado, sendo necessária, às vezes, compreensivelmente, assistência médica prolongada.

 

Comentário de Leonardo Paixão:

 

A compreensão de que não se está a tratar com seres outros e sim, seres humanos, só que na condição de desencarnados, isto é, não mais habitando um corpo material, porém, permanecendo com a sua individualidade e personalidade, logo, com pensamento, memória, emoções, sentimentos, tais quais os tinham na esfera física e permanecem tendo, é que fará com que se perceba que os obsessores são seres humanos feridos em seus valores mais íntimos e que, do mesmo modo, que nós, os encarnados podemos carregar profundas mágoas a gerarem raiva e até mesmo ódios em nós, os Espíritos desencarnados que sofreram decepções as mais diversas como traições, acusações por crimes que não cometeram, abandonos quando mais precisavam de ajuda, rejeição de pessoas próximas – parentes ou amigas -, que foram lesados em seus patrimônios ou que até mesmo foram roubados e, tendo ciência da ação criminosa ou ofensiva contra eles ou não no período em que estiveram reencarnados, levam para o além as mágoas vivenciadas ou ao descobrirem toda a trama realizada contra eles agora que estão na esfera espiritual, onde nada há oculto, após a decepção vem a raiva e, é aí que se iniciam muitos processos obsessivos que facilmente se instalam até pelo fato de, a maioria dos Espíritos reencarnados na Terra, não terem uma convicção na vida além-túmulo quanto mais conhecimentos sobre o processo obsessivo. Em assim sendo, há para o Espírito desvestido agora de seu corpo físico, imensa possibilidade de acesso à mente do encarnado sugestionando-lhe pensamentos e comportamentos desequilibrados que podem e, não raro, chegam ao ponto de lhes tirar a sanidade mental.

O Espírito, conforme colocamos acima, sendo um ser humano desencarnado e tendo as potencialidades próprias como pensamento, memória, sentimentos, emoções, mantém as qualidades e defeitos que mostrava ter na Terra, logo, voltando à vida espiritual retorna à liberdade de ações que estavam antes tolhidas pela influência da matéria. Agora ele pode percorrer o espaço com a velocidade do pensamento, barreiras físicas (paredes, muros, a água, o fogo, ventanias) não são impedimentos para a sua movimentação, assim como não há mais para o Espírito as necessidades fisiológicas como sede, fome, sono – há  aqueles casos em que por um processo psicológico o Espírito acha que tem essas necessidades, são casos de Espíritos muito ligados a esfera física e outros que são hipnotizados por obsessores no Além – fica-se livre para agir o Espírito onde desejar se houver para com ele sintonia, isto é, afinidades de gostos devido ao patamar moral em que o encarnado se encontre.

O tempo já não tem para o Espírito o mesmo valor quando encarnado, porque já não mais necessita de dormir e nem de realizar as atividades próprias da vida na Terra como trabalhar, ir a compromissos em família, enfim, ter uma organização de agenda. Por isso, os Espíritos que desejam vingança, não é difícil que esperem os seus algozes reencarnarem para então darem início, seja desde criança ou em idade mais avançada à perturbação sobre o seu inimigo agora reencarnado.

Vejamos o que nos esclarece Allan Kardec a esse respeito:

 

“(...) O Espírito mau espera que o outro, a quem ele quer mal, esteja preso ao seu corpo e, assim, menos livre, para mais facilmente o atormentar, ferir nos seus interesses, ou nas suas mais caras afeições. Nesse fato reside a causa da maioria dos casos de obsessão, sobretudo dos que apresentam certa gravidade, quais os de subjugação e possessão. O obsidiado e o possesso são, pois, quase sempre vítimas de uma vingança, cujo motivo se encontra em existência anterior, e à qual o que a sofre deu lugar pelo seu proceder”. (KARDEC. Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. X – Bem aventurados os que são misericordiosos, item 6)

 

E aqui surge uma pergunta muito natural: Como o Espírito obsessor encontra/reconhece o seu inimigo reencarnado? Como ele pode ter acesso a esse conhecimento? Atentemos nessas colocações do Espírito Adolfo Bezerra de Menezes:

(...) Aterrorizado ante as vinditas atrozes movidas pelos Espíritos de seus antigos amos de Lisboa, o Espírito João-José preferiu ocultar-se numa encarnação de formas femininas, esperançado de que, assim disfarçado, não pudesse ser reconhecido. Enganou-se, porém, visto que sua própria organização psíquica atraiçoou-o, modelando traços fisionômicos e anormalidades físicas idênticos aos que arrastara na época citada. Encontrou-se, de outro modo, enredado em complexos físicos oriundos da mudança de sexo, anormalidades sexuais e mentais fáceis de fornecerem, pista de reconhecimento a um obsessor...’ (PEREIRA, Yvonne A. Dramas da Obsessão. Pelo Espírito Adolfo Bezerra de Menezes. 4. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2010. p. 156)

 

Para que não fiquemos somente na literatura mediúnica, mas aprofundemos nossos estudos, já que o Espiritismo é por definição do próprio Allan Kardec “uma ciência de observação e uma doutrina filosófica” (O que é o Espiritismo. Preâmbulo), recorramos a relatos de experiências científicas que nos trazem sobre uma possível descoberta do perispírito.

“Na respeitadíssima Universidade de Kirov do Cazaquistão, em Alma-Ata, biologistas, bioquímicos e biofísicos reuniram-se em torno de um imenso microscópio eletrônico. O equipamento dos Kirlians fizera um longo trajeto. Agora estava preso àquele sofisticado e intricado instrumento eletrônico. Olhando pelo ocular do microscópio eletrônico, os cientistas viram na silenciosa descarga de alta frequência alguma coisa outrora reservada apenas aos clarividentes. Viram o "duplo" vivo de um organismo vivo em movimento.

Fizeram-se inúmeras experiências com plantas, animais e seres humanos vivos utilizando o efeito kirliano. Que era esse "duplo"? "Uma espécie de constelação elementar, semelhante ao plasma, feita de elétrons e prótons ionizados, excitados, e possivelmente de outras partículas", disseram eles. "Ao mesmo tempo, porém, o corpo energético não é apenas formado de partículas. Não é um sistema caótico. É, por si mesmo, todo um organismo unificado." Atua como unidade, dizem eles e, como unidade, emite os próprios campos eletromagnéticos e à base de campos biológicos.

Em 1968, os Drs. V. Empuxem, V. Grishchenko, N. Vorobev, N. Shouiski, N. Fedorova e F. Gibadulin anunciaram o seu descobrimento: todas as coisas vivas - plantas, animais e seres humanos – possuem não só um corpo físico, constituído de átomos e moléculas, mas também um corpo energético equivalente, a que dão o nome de "Corpo do Plasma Biológico". (75-60-198)

As implicações são tremendas:

Num trabalho científico volumoso como um livro, publicado pela Universidade do Cazaquistão, "A essência biológica do efeito de Kirlian", (Alma-Ata, 1968), eles descreveram as pesquisas levadas a efeito com o "corpo energético" vivo.

"A bioluminescência visível nas fotografias de Kirlian é causada pelo bioplasma e não pelo estado elétrico do organismo", dizem eles. Um dos traços mais característicos desse corpo energético colorido e vibrante, que existe em todas as coisas vivas, é "a sua organização espacial específica". Possui forma. No interior do corpo energético, afirmam os cientistas, os processos têm o seu próprio movimento labiríntico, absolutamente diverso do padrão de energia no corpo físico. O corpo bioplasmático também é polarizado.

"O plasma biológico do corpo energético é específico de cada organismo, de cada tecido e, possivelmente, de cada biomolécula", afiançam eles. "A especificidade determina a forma do organismo."

Nos últimos anos, inúmeros cientistas de muitos países têm pressuposto a existência de uma espécie de matriz, uma espécie de padrão organizador invisível, inerente aos seres vivos. Na União Soviética, por exemplo, o Dr. Alexandre Studitsky, do Instituto de Morfologia Animal de Moscou, picou um tecido muscular em pedacinhos e enfiou-os na ferida feita no corpo de um rato. A partir desses pedacinhos, o corpo reconstituiu um músculo inteiramente novo, como se existisse um padrão organizador”. (OSTRANDER, Sheila e SCHROEDER, Lynn. Experiências Psíquicas Além da Cortina de Ferro. Editora Pensamento. p. 350-351)

 

Por essas pesquisas podemos ver como a ciência tem tal qual o Espiritismo, revelado aspectos do ser que transcendem a organização fisiológica. E, por que não afirmamos que “a ciência está confirmando o Espiritismo”? Porque, pensamos ser essa uma afirmação que não se coaduna com o que Allan Kardec expôs:   

“Definamos primeiro o sentido da palavra revelação. Revelar, do latim revelāre, cuja raiz, vēlum, véu, significa literalmente sair de sob o véu — e, figuradamente, descobrir, dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida. em sua acepção vulgar mais genérica, essa palavra se emprega a respeito de qualquer coisa ignota que é divulgada, de qualquer ideia nova que nos põe ao corrente do que não sabíamos.

Deste ponto de vista, todas as ciências que nos fazem conhecer os mistérios da natureza são revelações e pode dizer-se que há para a humanidade uma revelação incessante. A Astronomia revelou o mundo astral, que não conhecíamos; a Geologia revelou a formação da terra; a Química, a lei das afinidades; a Fisiologia, as funções do organismo etc.; Copérnico, Galileu, Newton, Laplace, Lavoisier foram reveladores”. (KARDEC, Allan. A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo. 53. ed. Brasília: FEB, 2013. Cap. I – Caráter da Revelação Espírita. p. 17, item 2)

Com essas transcrições e a nossa observação, podemos assim compreender a influência que o pensamento do Espírito exerce sobre o seu corpo antes de reencarnar, desse modo, deixando sejam sinais, manchas, traços fisionômicos, deficiências físicas, que venham a colaborar para que o seu cobrador que se encontra no Mundo dos Espíritos se recorde dele ao se lhe olhar a nova aparência. Além disso, há também o que Kardec chamou de afinidade fluídica e que possibilita a influência maior de um Espírito sobre um médium, lembrando que toda pessoa obsedada é médium, sendo que atormentado.

 

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Nos Bastidores da Obsessão - Estudo

Estudo do livro Nos Bastidores da Obsessão, do Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco.


Examinando a Obsessão (Continuação)


Obsessores, obsidiados!

A obsessão, sob qualquer modalidade que se apresente, é enfermidade de longo curso, exigindo terapia especializada de segura aplicação e de resultados que não se fazem sentir apressadamente.

Os tratamentos da obsessão, por conseguinte, são complexos, impondo alta dose de renúncia e abnegação àqueles que se oferecem e se dedicam a tal mister.

Uma força existe capaz de produzir resultados junto aos perseguidores encarnados ou desencarnados, conscientes ou inconscientes: a que se deriva da conduta moral. A princípio, o obsessor dela não se apercebe; no entanto, com o decorrer do tempo, os testemunhos de elevação moral que enseja, confirmando a nobreza da fé, que professa como servidor do Cristo, colimam por convencer o algoz da elevação de princípios de que se revestem os atos do seu doutrinador, terminando por deixar livre, muitas vezes, aquele a quem afligia. Além da exemplificação cristã, a oração consegue lenir as úlceras morais dos assistidos, conduzindo benesses de harmonia que apaziguam o desequilibrado, reacendendo nele a sede e a necessidade da paz.

 

Comentário de Leonardo Paixão:

 

A desobsessão é tarefa árdua que exige muita perseverança de quem a exerce nos agrupamentos espíritas e é exercício de amor incondicional, porque lida-se com Espíritos perversos, sejam estes desencarnados sejam estes encarnados.

Muitas pessoas, por desconhecimento dos processos desobsessivos, ao pedirem socorro para casos de obsessão sejam em si mesmas ou para terceiros, acha, que em uma sessão de desobsessão o seu caso será resolvido ou que bastará as orações dos membros da equipe mediúnica para resolver os seus problemas espirituais, voltando assim tudo rapidamente ao normal. Por isso, se faz de grande importância esclarecer aos assistidos sobre a natureza do obsessor – ser humano tal como ela é e que, em passada existência (quando de obsessão por vingança) muito foi atingida em seus afetos, em sua dignidade pela vítima de hoje que, como ocorre entre os encarnados quando ofendidos, não raro guardam mágoa e esta se transforma em raiva, rancor, até atingir o ápice: o ódio. Compreendida a natureza humana do espírito obsessor, também ele um ser humano, só que sem o corpo físico, fica-se mais fácil de se entender que o tratamento da obsessão é demorado e complexo e exige mudança de comportamento do obsedado. A desobsessão quando bem realizada, trabalha a doutrinação tanto do desencarnado quanto do encarnado.

No capítulo A Interpenetração Fluídica no Processo Obsessivo, do livro A Obsessão e seus Mistérios, de Carlos Bernardo Loureiro são as seguintes observações do autor, colocando sua experiência de 30 anos no tratamento das obsessões:

“O trabalho da doutrinação é penoso e demorado. Exige paciência de ambos os lados, especialmente da parte dos que conduzem o obsidiado à casa espírita. Surge, ao longo do tratamento desobsessional, uma série de impedimentos que devem ser vencidos com paciência e obstinação.

Outro fator importante a ser observado pelos dirigentes das reuniões de desobsessão é que, nos primeiros contatos, o assistido pode apresentar uma sensível piora. E o obsessor (ou grupo de obsessores) que reage, isto é, assume franca e refratária oposição ao tratamento. A sua indisposição, traduzida pela raiva e pelo inconformismo, repercute, psíquica e organicamente, naquele que é, pelo menos aparentemente, a sua vítima, cabe, então, aos responsáveis pela sessão, agir com muita cautela, esclarecendo o porquê do recrudescimento dos distúrbios que acometem o assistido. Tais esclarecimentos são absolutamente necessários, evitando-se a fuga do assistido e de seus prepostos das sessões (Nota de Leonardo Paixão: lembrando que os obsedados são tratados à distância, não é permitida a presença destes nas sessões por motivos óbvios de sintonia e disciplina), que, assim procedendo, fazem, infelizmente o jogo dos Espíritos obsessores,

Esse mecanismo vem sendo observado pelo autor desta obra, há vários anos, na cidade de Salvador, nas sessões de desobsessão que faz parte ou que dirige. Não raras vezes, os Espíritos logram êxito nos seus nefastos objetivos, ficando o obsidiado inteiramente á mercê dos seus desafetos, muitas vezes sedados e escravizados por poderosos e inibidores medicamentos. Essas criaturas apáticas, deprimidas, vagam pelas dependências dos sanatórios psiquiátricos, pelos cômodos de seus apartamentos, pelos corredores de suas casas ou pelas ruas, como verdadeiros zumbis. Ainda que a situação que vivenciam, obsessores e obsidiados, seja desesperadora, sempre há uma saída pela Lei Natural, acionando recursos que possibilitam a reconciliação entre desafetos. Em casos extremos, os mecanismos da reencarnação são acionados, dando-se início ao sacrificial reajuste, que demanda tempo, muito tempo...”.

 

E, com relação ao nível espiritual da equipe de trabalhadores do Grupo Espírita, neste caso, especialmente os das reuniões de desobsessão, é essencial que seja em harmonia com os postulados espíritas, pois que os tarefeiros desse campo são constantemente observados por aqueles Espíritos atendidos nas reuniões para tratamento de obsessões. Vejamos este relato do Espírito Adolfo Bezerra de Menezes sobre um trabalho de desobsessão:

 

“E assim foi que, com efeito, durante seis meses habitando aquele Centro de fraternidade, o doutor Timóteo do século 16 e seus três filhos assistiram a curas de paralíticos e de obsidiados, realizadas em nome e pelo amor de Jesus-Cristo, o Nazareno, através daquele grupo de médiuns a quem nós, os do invisível, tínhamos o dever de acionar. Contemplaram e admiraram a dedicação abnegada, diária, de um serviço de assistência a enfermos do corpo e da alma, sem esmorecimentos, sem queixas nem reclamações, antes sob a irradiação da sã ternura do coração e da sublime alegria daquele que já vislumbra em si mesmo as alvoradas do reino de Deus! Assistiram às doces tarefas da fraternidade se distenderem até ao invisível, no socorro a obsessores, a suicidas, a corações endurecidos no mal, como a desesperados e tristes que vagueiam pelos planos invisíveis sem forças para a emenda. Viram o órfão socorrido, o mendigo acalentado na sua miséria, o presidiário assistido no seu tugúrio, esclarecido na sua ignorância e esperançado no futuro redentor dentro das próprias lágrimas do opróbrio, o faminto saciado, o abandonado encaminhado ao trabalho honroso, a decaída retornando ao dever, o ignorante orientado ao caminho do aprendizado compensador. E tudo isso realizado sob o critério da Doutrina do grande Mestre do Cristianismo! Visitando, porém, a intimidade do lar de cada um daqueles médiuns que contribuíam para a melhoria da sua própria situação, constataram que suas vidas eram consagradas ao honesto cumprimento dos deveres sociais e profissionais, dedicadas ao bem e ao respeito do próximo, em qualquer setor! E ainda que, se sofriam, oravam e se resignavam, certos de melhor futuro; e, se eram ofendidos por inimigos gratuitos, poderiam sofrer e chorar em silêncio, mas sem blasfêmias nem revides vingadores, porque o perdão era tão fácil e espontâneo naqueles corações como o sorriso nas faces da criança... Nem uma palavra insultuosa ao próximo jamais ouviram, nem uma delação ou intriga, nem uma apropriação indébita, nem um perjúrio, nem a maledicência, nem o abuso e o vitupério! E tudo isso eles também analisaram e compreenderam que era a verdadeira educação fornecida por aquela Doutrina Cristã, que eles haviam conhecido falseada no século XVI, mas que agora se surpreendiam de vê-la praticada em Espírito e Verdade, em nome do grande “Rabboni”, seu fundador, cujo nome — descobriram através dos ensinamentos desses seus discípulos — era Jesus Nazareno!

Sim! “Jesus-ben-Joseph” de Nazaré, mas nascido na Judeia, na cidade de David, exatamente o Messias anunciado pelos profetas de Israel... e como ele, Timóteo, e seus filhos, perseguido pelas hienas clericais até ao desespero do suplício e da morte forjada pelos interesses pecaminosos dos homens!

Durante o espaço de tempo que ali passaram, assistiram, graves e quedos, acomodados entre a assembleia de ouvintes, como quaisquer encarnados, ao estudo e à oratória espírita e evangélica. E nós, então, acionando a técnica do

“Laboratório do Mundo Invisível”, criávamos para os seus entendimentos —valendo-nos do poder da nossa vontade — os panoramas expostos pelos oradores e explicadores, panoramas que eles passavam a ver como em cenas teatrais ou cinematográficas, pois que as vibrações dessa casa de comunhão com o Alto, por se conservarem imaculadas, facilitavam a delicadeza e a eficiência do melindroso, sublime trabalho. Um curso eficiente, pois, de legítimo Cristianismo e de Filosofia Espírita levaram a efeito os antigos hebreus através de tais processos, visitando ainda outras agremiações merecedoras da nossa confiança e observando outros tantos adeptos fiéis às recomendações do Consolador. Pela mesma época, outrossim, foram-lhes demonstrados em aprendizado, através de dolorosa, mas grandiosa exposição da retrospecção da memória (exame consciencial dos arquivos mentais), os antecedentes do drama terrível de Lisboa: — Aboab e filhos haviam existido em Jerusalém ao tempo dos primeiros cristãos como autoridades judaicas e romanas, exercendo então, sobre os inofensivos adeptos do Cristianismo nascente, atrocidades análogas às que tantos anos mais tarde vieram a experimentar, por sua vez, sob as garras da Inquisição de Portugal! Então, compreendendo claramente a lógica dos fatos, ou a lei de causa e efeito, humilharam-se, reconhecendo o erro em que incorriam havia séculos, e, desfeitos em lágrimas de sincero arrependimento, renderam-se à evidência da irresistível doutrina do Amor, do Perdão e da Fraternidade, que desde os dias longínquos do Calvário irradia redenção para a sucessão dos séculos. E constataram, assim, que aquela fé clerical que, sob os auspícios do “Santo Ofício” de sacrílega memória, se pretendeu impor pela crueldade da violência, longe estava de se assemelhar às blandiciosas lições daquele doce “Rabboni” que recomendava aos seus discípulos:

— “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.

 

E, conclui o Venerável “Médico dos Pobres”:

 

“Assim é, meus caros amigos, que o conhecimento legítimo da Doutrina Espírita, como a boa e lúcida prática da mediunidade, resolvem problemas seculares, pois não esquecereis de que foi através da mediunidade bem orientada, à luz do Evangelho do Cristo e sob o rigor da Ciência Transcendental, que os Aboabs se encaminharam para a regeneração individual... e que a família de Leonel, igualmente convertida sob orientações espiritistas, obteve forças e ensejos para o único alvo que lhe caberia atingir a fim de lograr serenidade para progredir moral e espiritualmente, isto é – o amor e o respeito às soberanas leis de Deus...” (PEREIRA, Yvonne do Amaral. Dramas da Obsessão. Pelo Espírito Bezerra de Menezes, [psicografado por] Yvonne A. Pereira. 4.ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2010). pp.165, 166 e 167). 



sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Nos Bastidores da Obsessão - Estudo

Estudo do livro Nos Bastidores da Obsessão, do Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco.


Examinando a Obsessão (Continuação)


Outros, ainda, afervorados a esta ou aquela iniquidade, fixam-se mentalmente, a desencarnados que efetivamente se identificam e fazem-se obsessores destes, amargurando-os e retendo-se às lembranças da vida física, em lamentável comunhão espiritual degradante...

Além dessas formas diversificadas de obsessão, outras há, inconscientes ou não, entre as quais, aquelas produzidas em nome do amor tiranizante aos que se demoram nos invólucros carnais, atormentados por aqueles que partiram em estado doloroso de perturbação e egocentrismo... ou entre encarnados que mantém conúbio mental infeliz e demorado”,

 

Comentário de Leonardo Paixão:

 

Vamos aqui exemplificar com um caso que o Espírito André Luiz nos relata no livro Nos domínios da Mediunidade, cap, 14 sobre um caso de obsessão de encarnado para desencarnado. Para isso transcreveremos algumas partes:

 

“O irmão Justino, diretor da instituição, re­cebeu o grupo, pedindo escusas por não lhe ser possível acompanhar os amigos no serviço. A razão era simples: a casa jazia repleta de psico­patas desencarnados e não poderia, dessa forma, deter-se naquele mo­mento. A desarmonia era efetivamente tão grande no hospital, que André ficou espantado. Como promover reajuste num meio atormentado como aquele? Aulus explicou: "Importa reconhecer que este pouso é um refú­gio para desesperados. Segundo a reação que apresentam, são conduzi­dos, de pronto, a estabelecimentos de recuperação positiva ou regres­sam às linhas de aflição de que procedem. Aqui apenas atravessam pe­queno estágio de recuperação". Num leito simples, Libório, de olhar esgazeado, mostrou-se indiferente à presença do grupo. Exibia o sem­blante dos loucos, quando transfigurados por ocultas flagelações. Exa­minando-o, Aulus informou: "O pensamento da irmã encarnada que o nosso amigo vampiriza está presente nele, atormentando-o. Acham-se ambos sintonizados na mesma onda. É um caso de perseguição recíproca. Os benefícios recolhidos no grupo estão agora eclipsados pelas sugestões arremessadas de longe". André observou que há muitos médiuns assim na Terra. Aliviados dos vexames que recebem por parte de entidades infe­riores, depressa reclamam-lhes a presença, religando-se a elas automa­ticamente, embora o propósito dos amigos espirituais de libertá-los. Enquanto não se modificam suas disposições espirituais, favorecendo a criação de novos pensamentos, jazem no regime da escravidão mútua, em que obsessores e obsidiados se nutrem das emanações uns dos outros. Libório estava mais angustiado e mais pálido; parecia que uma tempes­tade interior, pavorosa e incoercível, o empolgava. De fato. Em ins­tantes, sua esposa, desligada do corpo denso em momento do sono, apa­receu no recinto, reclamando, feroz: "Libório! Libório! por que te au­sentaste? Não me abandones! Regressemos para nossa casa! Atende, atende!..."

Hilário, deveras surpreso, reco­nheceu na­quela mulher a mesma pessoa que, momentos antes, rogara socor­ro à ins­tituição que frequentava... "Isso é o que ela julga que­rer – explicou Aulus –, entretanto, no íntimo, alimenta-se com os fluidos enfermiços do companheiro desencarnado e apega-se a ele, ins­tintivamente." "Milhares de pessoas são assim. Registram doenças de variados matizes e com elas se adaptam para mais segura acomodação com o menor esforço. Dizem-se prejudicadas e inquietas, todavia, quando se lhes subtrai a moléstia de que se fazem portadoras, sentem-se vazias e padecentes, provocando sintomas e impressões com que evocam as enfer­midades a se exprimirem, de novo, em diferentes manifestações, auxi­liando-as a cul­tivar a posição de vítimas, na qual se comprazem." O Assistente disse que tal fato acontece na maioria dos casos de obses­são, e é por esse motivo que, em muitas ocasiões, as dores maiores são chamadas a fun­cionar sobre as dores menores, com o objetivo de acordar as almas vi­ciadas nesse gênero de trocas inferiores. Nesse ponto, a esposa conse­guira abeirar-se mais intimamente de Libório, que passou a demonstrar visível satisfação, sorrindo à maneira de uma criança con­tente. Vendo, porém, Celina, a infeliz bradou, colérica: "Quem é esta mulher? dize! dize!..." Celina avançou para ela com simplicidade e im­plorou: "Minha irmã, acalme-se! Libório está fatigado, enfermo! Aju­demo-lo a repou­sar!..." A interlocutora não suportou o olhar doce e benigno da notá­vel médium e, longe de reconhecer Celina, tomada por forte ciúme, gri­tou para o enfermo palavras amargas, abandonando o re­cinto, em desaba­lada carreira. Libório ficou contrariado com o fato, mas Aulus apli­cou-lhe passes, restituindo-lhe a calma. Em seguida, o Assistente enal­teceu a grandeza da Bondade Divina, que aproveita até os nossos senti­mentos menos dignos em nossa própria defesa. O ciúme e o despeito da esposa encarnada, ao ver Celina junto do esposo, dar-lhe-iam tréguas valiosas, de vez que o grupo teria algum tempo para auxiliá-lo nas re­flexões necessárias. Hilário se disse surpreso com ver o serviço in­cessante por toda a parte, seja na vigília e no sono, na vida e na morte... Aulus respondeu-lhe, sorrindo: "Sim, a inércia é simplesmente ilusão e a preguiça é fuga que a Lei pune com as aflições da reta­guarda".

 

Estes pequenos trechos do cap. 14 da obra Nos Domínios da Mediunidade nos traz muitas reflexões sobre os casos de vampirismo e obsessão recíproca, isto é, do desencarnado para o encarnado e do encarnado para o desencarnado, ambos se obsedando. Lembremos a definição de obsessão que nos dá o Espírito Adolfo Bezerra de Menezes: “(...) a obsessão, de qualquer natureza, nada mais é que duas forças simpáticas que se chocam e se conjugam numa permuta de afinidades” (PEREIRA, Yvonne A. Dramas da Obsessão. Pelo Espírito Adolfo Bezerra de Menezes. 4, ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2010, p. 29).

 

O Benfeitor Aulus esclarece sobre um pedido de ajuda ao Grupo Espírita, mas que, em não havendo esforço da irmã que a solicitou, os resultados alcançados na reunião mediúnica desaparecem. Observemos atentamente a fala do Benfeitor a respeito: "O pensamento da irmã encarnada que o nosso amigo vampiriza está presente nele, atormentando-o. Acham-se ambos sintonizados na mesma onda. É um caso de perseguição recíproca. Os benefícios recolhidos no grupo estão agora eclipsados pelas sugestões arremessadas de longe" (grifos nossos).

 

Quantos são os casos de pessoas que pedem socorro aos Grupos Espíritas e, por não realizarem o exercício de reforma moral, necessário a todos nós, modificando assim conceitos e por consequência os sentimentos com relação aos seus sofrimentos bem como confortando-se igualmente através da oração fervorosa ao Senhor, permanecendo então do mesmo jeito, acusam, em uma postura vitimista, de que ao pedirem ajuda a esta ou aquela instituição espírita, de nada adiantou e os seus sofrimentos até aumentaram por se lhes ter dado esperanças. É um caso clássico de vitimização que projeta no outro a causa de seus insucessos. E respondendo Aulus ao espanto de Hilário sobre como a irmã no texto aqui colocado como subsídio aos nossos estudos, pediu ajuda e em parcial liberdade através do sono do corpo físico, age completamente diferente do estado de vigília, alerta: "Milhares de pessoas são assim. Registram doenças de variados matizes e com elas se adaptam para mais segura acomodação com o menor esforço. Dizem-se prejudicadas e inquietas, todavia, quando se lhes subtrai a moléstia de que se fazem portadoras, sentem-se vazias e padecentes, provocando sintomas e impressões com que evocam as enfer­midades a se exprimirem, de novo, em diferentes manifestações, auxi­liando-as a cul­tivar a posição de vítimas, na qual se comprazem." (grifos nossos).