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sábado, 25 de maio de 2013


Restauração do Cristianismo
Por Leonardo Paixão
(Orador e Médium em Campos, RJ - Brasil)

Desde que Constantino em 325 d.C. realizou o Concílio de Nicéia, teve início a grande desfiguração do Cristianismo, onde a crença pagã (politeísta, enraizada na doutrina da santíssima trindade e nos cultos dos santos), já não é apenas o aspecto sincrético proveniente do aumento do número de cristãos no Império Romano, fenômeno perfeitamente explicável pelos estudos de antropologia cultural, mas verdade de fé e por isso mesmo irrevogável. Era o início de um poder terreno que se fazia na Terra o representante escolhido diretamente pelos Céus! (1) O interesse de Constantino em manter a unidade política, territorial e religiosa do Império e uma posição proeminente para sua pessoa imperial, foram os motivos para a convocação de um Concílio reunindo líderes de diversas igrejas e somente após o Concílio de Nicéia foi que o imperador tornou – se popular em Roma e, agora só havia uma doutrina teológica verdadeira porque inspirada pelo Espírito Santo (?) (2), sobre este assunto esclarece o prof. J. Herculano Pires:

(...) Os Gnósticos, que enfrentaram o avanço dos cristãos, apoiados pelo Imperador Constantino, de Roma, diziam – se herdeiros de uma revelação antiga, que se conservava na sucessão dos mandatos. Pretendiam a universalidade, como os cristãos, mas não dispuseram de um apoio político e militar suficiente, sendo condenados como hereges. Os cristãos realizaram sua institucionalização sob a proteção romana toda poderosa. Tinham o mandato de César, mas faltava – lhes o de Deus. Todas as seitas cristãs que discordavam da posição dos protegidos de Roma eram declaradas hereges e muitas vezes exterminadas. A mesma aliança anteriormente efetuada entre romanos e judeus, em Jerusalém, efetuava – se então entre romanos e cristãos, com propósito mais vasto, que era o domínio do mundo. Por mais que desejemos dourar essa situação, alegando a necessidade de expansão do Cristianismo para a salvação da Humanidade, a verdade dos fatos históricos nos mostra que o objetivo principal, e que realmente se realizou, pelo menos em parte, era o domínio político e militar dos povos sob o prestígio da igreja apoiada pelo Império (Revisão do Cristianismo, 1996).

As consequências de tal decisão produziram o período de trevas na humanidade começando com as Cruzadas que tinham por objetivo retirar os árabes da Terra Santa culminando com a instituição da Congregação do Santo Ofício (hoje Congregação para a doutrina da Fé), ironicamente chamada de Santa Inquisição, que tanta dor e confusão causou devido ao fanatismo religioso e à ambição desmedida dos novos sacerdotes da caricatura cristã. A massa ignara seguia piedosamente as ordens “divinas”, é chocante o episódio ocorrido com John Huss: quando este estava sendo queimado uma velhinha se aproxima e coloca um pequeno galho para aumentar o fogo, ao que Huss exclama: sancta simplicita! (santa ignorância), o povo cria que quanto maior fosse o fogo, a alma do “infiel” seria mais purificada de seus “pecados”.

É no seio da própria Igreja que o começo de uma ação para restaurar a verdade cristã em seu verdadeiro significado irá se produzir, quando em 31 de outubro de 1517 o monge agostiniano Martin Luther (Martinho Lutero) fixa na porta da igreja de Wittenberg as 95 teses, dando início a intensos debates teológicos que culminam na divisão da cristandade em católicos e protestantes. Entretanto, apesar de Lutero haver retirado a letra morta para a claridade das consciências, o livre exame das Letras Sagradas trouxe divergências na interpretação, provocadas pelo orgulho humano que só percebe a sua verdade, nasceram daí os anabatistas e os calvinistas e mais divisão foi feita entre os cristãos.

No decorrer da história humana, muitos pensadores apareceram buscando fazer ver ao homem que a vida tem um sentido e que o Cristianismo do Cristo não estava perdido, teremos o “cogito” de Descartes (século XVII), os enciclopedistas no Século das Luzes (século XVIII), o panteísmo de Spinoza (século XVII), a desenvolver – nos uma concepção de Deus nada antropomórfica, de Spinoza disse Ernest Renan: “eis o homem que teve a mais profunda visão de Deus!”. E, para fazer a revisão dos ensinos de Jesus de Nazaré, Renan, o grande racionalista do século XIX, em 24 de junho de 1863, lança a sua obra – prima Vida de Jesus (3), restituindo a Jesus a sua figura humana, filho de José e Maria e não um deus encerrado num corpo humano, como se tal coisa fosse possível, o Criador dos Universos limitado como um mortal, Ele que é a um só tempo Eterno e a Eternidade. Guiando – se na mesma postura de Renan, mas sob ótica diversa, Allan Kardec também inicia o processo de revisão do Cristianismo quando publica O Evangelho segundo o Espiritismo em 1864. No livro Obras Póstumas, Kardec pergunta aos Espíritos o que dirá o clero sobre O Evangelho, ao que responderam:

“O clero gritará – heresia, porque verá que atacas decisivamente as penas eternas e outros pontos sobre os quais ele baseia sua influência e o seu crédito. (...) O anátema secreto se tornará oficial e os espíritas serão repelidos, como o foram os judeus e os pagãos, pela Igreja Romana. Em compensação, os espíritas verão aumentar – se – lhes o número, em virtude desta perseguição, sobretudo com o qualificarem, os padres, de demoníaca uma doutrina cuja moralidade esplenderá como um raio de Sol pela publicação do teu novo livro e dos que se seguirão.

(...) o Espiritismo é a única tradição verdadeiramente cristã e a única instituição verdadeiramente divina e humana” (4).

O Espiritismo desmistifica e demitifica todo o arcabouço filosófico e teológico que a escolástica durante séculos produziu, colocando o homem na posição de espírito em evolução e tendo por máxima Fora da Caridade não há salvação (5), restaura a simplicidade cristã que é sem culto oficial, sem ritos, sem pompas, como eram as reuniões na igreja primitiva.

Notas:

1 – Este poder temporal vindo do céu estendeu – se à figura dos reis:

Se a sociedade era uma e tripartida e o rei era a figura que liga o triângulo, este apresentava - se, (...), na teologia política com um duplo corpo: o corpo mortal, terreno e humano, e o corpo que era na verdade o corpo místico, designativo do coletivo idealizado nas três ordens.

O duplo corpo do rei era por um lado a junção do corpo clerical e do corpo leigo, do sagrado e do profano, por isso o rei era ungido e eleito como todos que são da esfera do sagrado. Mas o rei não pertencia ao corpo clerical. Nem ao corpo clerical, nem à cultura clerical somente, porque o rei guerreiro também, leigo como seus pares, primus inter pares [primeiro entre iguais]. (FRÓES, Vânia Leite. Era o tempo do Rei... IN: LIMA, Lana Lage da Gama, HONORATO, César Teixeira, CIRIBELLI, Marilda Corrêa, SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. História e Religião. Rio de Janeiro: FAPERJ: Mauad, 2002. p. 59-60).

2 - (...) o Concílio de Nicéia era uma convocação de líderes religiosos vindos dos quatro cantos do mundo antigo, desde a Espanha até a Pérsia, do norte da África ao norte da França, do Egito da Síria, da Armênia e da Palestina. Constantino organizou e controlou a reunião, a primeira conferência ecumênica, criando, com esmero, a primeira imagem da cristandade. (...) As gerações seguintes acreditaram de modo geral que o Concílio de Constantino, fora guiado diretamente pelo Espírito Santo. O imperador entronizado e seus bispos aparecem como o protótipo do governo ocidental, pois foi em Nicéia que essa ordem dual de poder espiritual e temporal recebeu sanção pela primeira vez. No centro desse novo Império cristão ficavam os livros sagrados da Bíblia (ROMER, 1991).

3 – Esta obra de Renan é o marco da pesquisa universitária sobre a historicidade de Jesus e é reconhecida, diante das recentes descobertas arqueológicas como um dos mais importantes textos sobre esta.

4 – Para melhor entendimento dessa afirmativa leia – se o capítulo I do livro A Gênese, de Allan Kardec – Caráter da Revelação Espírita.

5 – É interessante observar que os exegetas têm traduzido para a Bíblia a palavra caridade por amor, já que aquela tem tido na atualidade o sentido de assistência social fugindo do sentido original, caridade vem do grego kharitas e significa amor supremo, lembramos que os gregos tinham oito palavras para exprimir o amor, cada qual em sentido específico, a caridade (amor supremo) como a entendia Jesus é a “benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão das ofensas” (O Livro dos Espíritos, questão 886).

 

 

 

 

 

 

 

quinta-feira, 16 de maio de 2013

FENÔMENO ANÍMICO X FENÔMENO MEDIÚNICO
Por Leonardo Paixão

No campo das pesquisas espíritas temos que considerar dois tipos de fenômenos que se assemelham e, por isso mesmo, confundem muitos espiritistas não afeitos à pesquisa e que erroneamente os classificam num único tipo: o fenômeno mediúnico. Se atentassem para a história das pesquisas psíquicas compreenderiam que, sendo o ser humano um Espírito encarnado, ele possui faculdades próprias do Espírito que se manifestam em estado próprio, como o estado de "transe".As experiências de Charcot, Braid e Lombroso referentes à hipnose comprovaram que no estado hipnótico há insensibilidade nervosa e transposição dos sentidos, sobre isto, Lombroso cita a experiência que realizou com a jovem C. S., de 14 anos:
 
"De início, sonambulismo, durante o qual mostrava singular atividade nos labores domésticos, grande afetividade aos parentes, distinta disposição musical; mais tarde, apresentou mutação no caráter, audácia viril e imoral; mas, o fato mais estranho era que, enquanto perdia a visão dos olhos, via, com o mesmo grau de acuidade (o 7° na escala Jager), pela ponta do nariz e lóbulo esquerdo da orelha, lendo, assim, uma carta que então viera dos Correios, enquanto que eu lhe vendara os olhos, e pôde distinguir os números de um dinamômetro.
Curiosa era depois a nova mímica com que reagia aos estímulos levados aos que chamaremos órgãos ópticos transitórios e transpostos.
Avizinhando, por exemplo, um dedo à orelha ou ao nariz, ou fazendo menção de os tocar, ou ainda melhor, fazendo com uma lente incidir um raio de luz de lâmpada, mesmo à distância e por fração de minuto, ressentia-se vivamente e irritava-se.
- Quereis cegar-me? - gritava.
Depois, com instintiva mímica inteiramente nova, tão nova quanto o fenômeno, movia o antebraço a defender o lóbulo da orelha e a extremidade do nariz, e assim permanecia por alguns minutos" (LOMBROSO, César. Hipnotismo e Mediunidade. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999. p. 70-71).

Tais fenômenos levaram a estudos sérios sobre a real causa destes fatos, se tinham plausível explicação fisiológica ou eram produtos da emancipação da alma. No caso do Hipnotismo, como o paciente "está nas mãos do operador" é difícil a explicação espiritualista, a não ser quando através deste processo há a intervenção inesperada de outra "força" (Espírito) totalmente alheia à vontade do operador.
Bem compreendidos,os fenômenos anímicos são uma evidência da independência e imortalidade da alma; a clarividência, a clariaudiência, a telepatia, os sonhos premonitórios, o transe sonambúlico natural ou provocado e o desdobramento astral ou projeção psíquica, são algumas faculdades que possuem em grau elevado determinadas criaturas, podendo em algumas tais faculdades serem desenvolvidas pelo exercício.
Allan Kardec estudou os fenômenos do magnetismo por 35 anos consecutivos e afirmou ser este uma excelente ferramenta para o estudo das potencialidades anímicas, já os fenômenos mediúnicos trazem a característica de evidenciar a sobrevivência do Ser após a morte, dando o Espírito através do médium provas de sua identidade, no caso de ser alguém conhecido ou, através da linguagem, caso seja personagem de há muito desencarnada.
Como vemos, no fenômeno anímico só há a manifestação do médium, a aparência de fenômeno mediúnico de que este se reveste confunde muitos dirigentes de reuniões mediúnicas, daí a necessidade do estudo e da pesquisa séria para que não haja confusão entre fenômenos psíquicos, tais os sonhos premonitórios, pressentimentos e outros com a real mediunidade ostensiva, própria de muitos médiuns que foram pesquisados no passado e, ainda hoje, raros de se encontrar, para que tal se dê se faz necessário agir com o rigor científico que caracterizou a obra de pesquisadores como Kardec, Denis, Delanne, Bozzano, Richet, Joseph Banks Rhine e outros. Somente com tal postura haverá de se fazer um trabalho sério e dignificante e, ao mesmo tempo, de consolo e amparo ao próximo, seja na cura das obsessões, seja pelas chamadas cartas consoladoras, seja pela simples aplicação de um passe reconfortante. Eis aí, como disse Newton Boechat, "a sabedoria que ama e o amor que sabe".